Esse livro começou já vencendo um desafio: convencer Jecy Sarmento a contar a sua vida, após décadas de tentativas frustradas por parte de seus amigos e familiares. Não só porque Jecy era reconhecido pelos mais íntimos como alguém extremamente reservado e discreto. Mas, principalmente, por ter sido, ao longo de mais de meio século, o mais fiel assessor e amigo de Leonel Brizola, sem dúvida, o seu grande confidente. “Por que vou contar minha vida, se tem coisas que não posso contar?”, resumia.
Só aos 90 anos, em fins de 2103, ele capitulou e o projeto do livro começou. Pouco tempo depois, esse autor se submeteu a uma cirurgia e a um tratamento de câncer, levando a uma pequena paralisação. Em junho de 2014, o projeto foi suspenso por falta de patrocínio, só retornando em 2017. Aí veio 2018 e o autor é submetido a uma biópsia e a um tratamento para um novo câncer – no mesmo período, Jecy vem a falecer. Finalmente, com o livro já em produção, no início de 2020, vem um terceiro câncer, este levando a uma internação e transplante de medula. Logo em seguida, o início da pandemia, com o adiamento do lançamento presencial, que seria em março desse mesmo ano.
Ufa! Deus, ou o destino, certamente conspiraram para que esse projeto do livro “Brizola e eu” se tornasse, ironicamente, mais uma daquelas missões quase impossíveis retratadas em sua história. Do tipo que Leonel Brizola só confiava a uma pessoa: Jecy Sarmento. Já a missão de desenvolver o livro, Jecy fez questão de confiar - com o apoio de toda a sua família - a Fernando Peregrino, engenheiro e político, fiel brizolista e ex-membro do governo Brizola no Rio, que coordenou o projeto e me chamou para escrevê-lo. O resultado dessas escolhas é uma prova de que viver é um ato de resiliência que só tem sentido se for em benefício de outros.
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