No recente caso do afastamento do governador eleito Wilson Witzel, vale aquele dito popular: recordar é viver. Mais do que isso, é reconhecer os erros do passado para não ter que repeti-los. E também fazer algumas reflexões: será que o novo não seria resgatar o velho? A nova política tem muito o que aprender com a velha política?
Novo ou velho? Esse é e sempre será um falso dilema. Como aquele que historicamente confronta o público e privado. Liberdade econômica x liberdade política. Liberdade de expressão x fake News. Ou, mais recentemente, o enfrentamento da pandemia x reativação da economia. Temos também o debate mais tradicional e anacrônico, mesmo após a queda do muro de Berlim: direita x esquerda. Não deixa de ser, por outro lado, uma eficiente tática política usada por esses inimigos (?) opostos para se manterem no poder e no inconsciente coletivo. Bobinhos somos nós ou aqueles que caem nesse conto do vigário de ver o mundo sempre pelas lentes da dicotomia, do zero ou do um. A certeza, me parece, é apenas de que só considerando os extremos como opções válidas, nunca sairemos deles para chegar no equilíbrio.
Desde 1982, quando das primeiras eleições diretas pós-ditadura, o Estado do Rio de Janeiro teve os seguintes governadores e vices: Leonel Brizola/Darcy Ribeiro (1983 - 1987), Moreira Franco/Francisco Amaral (1987 – 1991), Leonel Brizola/Nilo Batista (1991 – 1994), Nilo Batista (1994 – 1995), Marcello Alencar/Luiz Paulo (1995 – 1999), Anthony Garotinho/Benedita da Silva (1999 – 2002), Benedita da Silva (2002 – 2003), Rosinha Garotinho/Luiz Paulo Conde (2003 – 2007), Sérgio Cabral/Luiz Fernando Pezão (2007 – 2014), Luiz Fernando Pezão/Francisco Dornelles (2014 – 2019), Wilson Witzel/Cláudio Castro (2019 – 2020), Cláudio Castro (2020 - ?).
Desse total de 16 políticos, em 38 anos de mandatos desde 1983, oito sofreram alguma, várias ou todas essas ações a seguir, relacionadas basicamente a crimes de corrupção, responsabilidade ou enriquecimento ilícito: investigação, afastamento, denúncia, condenação, prisão. Dos que nunca foram sequer investigados, estão sete que haviam sido eleitos vices em suas chapas e apenas um ex-governador eleito. Aliás, eleito governador por dois mandatos. Seu nome: Leonel de Moura Brizola (falecido em 2004). Diga-se de passagem, Brizola foi perseguido e investigado ao extremo pelas autoridades na ditadura (basta pesquisar), que vasculharam sua vida durante anos e nada encontraram que desabonasse sua conduta moral e honestidade. Nada.
Há os que o acusam de incompetência e negligência, baseando-se em outro falso conflito (mais um), no caso entre direitos humanos/cidadania x mais criminalidade/poder aos criminosos. Em sua biografia “Brizola e eu”, Jecy Sarmento conta como Brizola reagia as campanhas sistemáticas contra ele e o que o norteava em lutas como essa. Foi traído sistematicamente por quem ele ajudou a crescer: Marcelo Alencar, Sebastião Nery, Garotinho, Lupe, Lula, Cabral, e tantos outros. Polêmico, carismático, político, comunicador e líder nato, acertava e errava, como qualquer um, e agia sem nunca abrir mão de princípios e valores que hoje tanto fazem falta, como liberdade, democracia e compromisso com o bem público. Especialmente com foco na solução para nossos principais problemas: educação para todos. Podemos mudar, é claro – e devemos, quanto à forma de concretizar tais princípios. Já na década de 80 para 90, Brizola confidenciava a Jecy (também está no livro) que gostaria de ter a maturidade de então (quase 70 anos), para fazer de outra forma as mesmas coisas que havia feito em sua vida. Um sonho de todos nós, diga-se de passagem.
A vida de Leonel Brizola, vis-à-vis o momento político atual, especialmente no Rio de Janeiro, prova, assim, que a política não se mede por ser antiga ou nova, nem é qualificada/desqualificada apenas por ser executada por personagens de décadas atrás ou por recém-chegados nesse cenário. Por quem é mais velho ou mais jovem (vide Collor, Garotinho, etc). A honestidade e a coragem de servir ao bem comum não tem idade, nem ideologia. Ela simplesmente é, ou não, adotada como princípio de vida. Como Brizola fez a vida toda. Essa é a lição que nunca devemos esquecer: pesquisar e entender melhor o passado, sem os falsos conflitos que tanto afastam e nos distanciam de um futuro mais equilibrado.
PS: No livro “Brizola e Eu”, a biografia de seu mais próximo assessor e amigo, Jecy Sarmento, histórias de Brizola com ele demonstram o quanto esses princípios fazem a vida valer a pena e servem de inspiração. Vá no link https://pag.ae/7WjhaGp7N e contribua para a campanha de lançamento de “Brizola e Eu”. Mais informações em https://www.facebook.com/brizolaeeu/
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